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Em nome do pai, do filho e do Espírito Santo!

A NOVA BARBÁRIE!

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George Magno, advogado, ex-presidente da OAB - Piripiri e colunista do Piripiri Repórter:

Presenciamos nos últimos dias a onda de violência ocorrida em Vitória, capital do Espírito Santo. Ao tomar conhecimento de fato tão revelador lembrei naquele mesmo instante de uma das grandes obras de José Saramago (prêmio nobel de literatura), que recentemente nos deixou indo para um plano melhor que esse com certeza.

Em “Ensaio sobre a Cegueira” reproduzido nas telas pelo Diretor brasileiro Fernando Meireles, o vidente autor supracitado apresenta todas as mazelas psicológicas do ser humano desde seu individualismo exacerbado até os sentimentos de impotência a que somos obrigados a enfrentar no dia a dia devido as nossas próprias atitudes, enquanto pertencentes a um meio social.

A narrativa cinematográfica mostra uma sociedade atingida por uma espécie de cegueira que vai dizimando todos os seus membros a ponto daqueles que não foram atingidos isolarem, no melhor estilo Auschwitz, os que sofriam da cegueira branca.

Aqui a primeira mensagem deixada pela obra, qual seja a fraqueza do Estado refletida pelo individualismo, que separa/segrega aquilo que lhe pode atingir! Algo bem parecido com a forma nazista de impor a superioridade da raça ariana, que colocava “sub-raças” em galpões para serem exterminados.

No Estado de Hitler essa limpeza de raça era feita pelo próprio detentor do poder, na obra de ficção, que nos parece mais real que imaginamos, o Estado coloca os próprios súditos para se combaterem até a eliminação dos mais fracos.

Observada a primeira leitura sobre a mensagem deixada pelo prêmio Nobel de literatura, mister atentarmos que a narrativa não define um país, não define nomes com a intenção de mostrar que o abismo em que estamos mergulhados não é um problema de apenas alguém, ou de um lugar, mas de todos nós, enquanto seres humanos.

Vemos em várias passagens as pessoas atingidas pela cegueira branca, dentro dos depósitos de “sub-raças”, aplicando a lei do mais forte, ou numa expressão mais atual, os mais adaptados à mazela roubando e saqueando os mais fracos, ou menos adaptados, estuprando as mulheres e praticando as mais diversas formas de mostrar os seus lados mais nefastos!

Há, ainda, momentos de êxtase/angústia velada como, por exemplo, quando os portadores da cegueira tomam banho na chuva acreditando que a mesma iria arrastar aquela doença, bem como todas as outras doenças da alma que carregamos no século XXI.

Voltando para realidade nua e crua dos dias atuais, mais especificamente, o ocorrido recentemente em Vitória, além do que já vem acontecendo no Rio de Janeiro, numa dialética talvez maniqueísta, a qual o amigo Castelo, às vezes me aponta, talvez com razão, o que mais me surpreende não é o evidente lado obscuro mostrado pelas pessoas em situações limites.

Para aqueles que estão na parte de baixo da pirâmide, que têm de lidar com a lei do mais forte, da sobrevivência, os saques não seriam menos degradantes, haja vista mostrar nossa incapacidade de responder a situação de limite, mas, pelo menos, seria menos estarrecedor.

O que causa espécie, e aqui também deveria causar preocupação ao observador menos atento é que em Vitória pessoas da classe média não passam por situações limítrofes de estado famélico que justificassem saques a, por exemplo, de lojas de eletrodomésticos.
Observamos ali, aqui e acolá a total ausência do Estado, Desta feita uma pequena fagulha, qual seja a falta de condição de trabalho digna de policiais, e ainda a falta de preparo dos mesmos, problemas estes que assolam todo o aparato policial do nosso país, acendeu todas as outras falhas de nossa sociedade a ponto de ficar evidente em todas as suas formas.

Parece, nessa situação, haver um pacto escancarado de mediocridade entre classe média e governo, daqueles em que um só lado ganha. No caso as elites, as quais são agraciadas com o discurso de justificação de seu poder, ao mesmo tempo em que presenciam a própria sociedade, com participação mais que especial da classe média, fazer a limpeza do sistema.

Essa é a realidade esfregada em nossa cara na atualidade. Enquanto a classe média brasileira, ou melhor, a senzala que se acha casa de engenho, vai se matando, em atos de profunda evidencia de sua falta de condição humana, ficaremos a mercê da máxima: EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO, e o pior, ao final de tudo, tendo que continuar dizendo AMÉM!